Saci X Bruxas

Por Thiago Rossi

Quem não foi em alguma festa de Halloween? Aquela que acontece no dia 31 de outubro e tantas vezes vista em filmes norte-americanos onde crianças fantasiadas batem de porta em porta perguntando: “doces ou travessuras?”. O que poucos sabem é que esta celebração teve origem na idade média, e tem mais de 2.500 anos. O Halloween teria surgido entre o povo celta, que acreditavam que no último dia do verão (31 de outubro), os espíritos saiam dos cemitérios para tomar posse dos corpos dos vivos. Para assustar estes fantasmas, os celtas colocavam, nas casas, objetos assustadores como, por exemplo, caveiras, ossos decorados, abóboras enfeitadas entre outros. Por ser uma festa pagã foi condenada na Europa durante a Idade Média, quando passou a ser chamada de Dia das Bruxas. Aqueles que comemoravam esta data eram perseguidos e condenados à fogueira pela Inquisição. Com o objetivo de diminuir as influências pagãs na Europa Medieval, a Igreja cristianizou a festa, criando o Dia de Finados (2 de novembro). Aos Estados Unidos, esta comemoração teria sido levada pelos imigrantes irlandeses, ela chegou em meados do século XIX. Já no Brasil a comemoração desta data é recente. Chegou ao nosso país através da grande influência da cultura americana, principalmente vinda pela televisão. Os cursos de língua inglesa também colaboram para a propagação da festa em território nacional, pois valorização e comemoram esta data com seus alunos: uma forma de vivenciar com os estudantes a cultura norte-americana.

O que pouca gente sabe, é que o dia 31 de outubro é dedicado, desde 2005, à nossa figura folclórica mais popular: o Saci Pererê. O nosso personagem mitológico que habita o imaginário popular brasileiro principalmente no interior do país onde ainda se mantém o hábito dos mais velhos, de contarem histórias aos mais jovens nas tranqüilas e claras noites de lua. Segundo a crença popular os Sacis vivem setenta e sete anos e se originam do bambu. Após sete anos de “gestação” dentro do gomo do bambu ele sai para uma longa vida de travessuras e quando morre se metamorfoseia em cogumelos venenosos ou em “orelhas de pau”. Quem é do interior ou já foi ao campo a passeio deve ter visto alguma vez, uma espécie de cogumelo que se forma nos troncos das árvores e que se parece com uma orelha. É isso que os matutos chamam de “orelha de pau”.

Tudo bem que nosso folclore não tem múmia, vampiro ou zumbis, e que nem a própria mídia nacional valoriza tanto quanto as bruxas e dráculas são valorizados pelos meios de entretenimento internacionais, mas por que não, de vez em quando promover um Halloween com temática nacional, fantasiando-nos de Curupira, Caipora, Cuca, entre outros? Por que não valorizar o nosso perneta serelepe? Não é tão somente um discurso nacionalista, ainda mais num mundo onde a globalização vem engolindo as características locais não só brasileiras, mas muito mais do que valorizar a cultura nacional, é vencermos o nosso complexo de vira-lata, já citado por Nelson Rodrigues, e aprendermos a ver nossos costumes e culturas com olhos que valorizem e não denigram.

Doces ou travessuras é legal, mas doces travessuras (sempre conscientes) podem ser também muito interessantes . E Viva o Saci!!!!

Fontes:

http://www.suapesquisa.com/datascomemorativas/halloween.htm

http://www.infoescola.com/folclore/a-lenda-do-saci-perere/