Por: Francisco
de Santana – Jornalista e Escritor
Era um sábado gelado do mês de
julho de 2014. O restaurante estava lotado. Todos muito bem agasalhados. Eu era
mais um de uma mesa composta de 19 pessoas. Só familiares. Comemorávamos o
aniversário da minha filha Ana Carolina. Para nossa surpresa seu namorado a
pediu em casamento. Ficaram noivos. Trocaram alianças. Gesto bonito,
emocionante. Pensei que estivesse fora de moda, se transformado em história, coisa
do passado ou do meu tempo. Tudo está mudado, tudo está mudando. Atrás de nós
uma mesa composta de 32 pessoas. Detalhes chamaram a minha atenção. Pelos
gritos e vibrações comemoravam algo. Eram jovens, adultos e seis idosos. Entre
todos, apenas os seis velhinhos conversavam e comiam. Os demais manuseavam seus
celulares, mostrando fotos, piadas, vídeos ou fazendo selfie. Eles não sossegavam
nos seus lugares, ficavam de cadeira em cadeira mostrando algo interessante gritando
e gargalhando chamando a atenção de todos. O garçom a todo instante era chamado
para passar para alguém o código da internet.
Li no #Estadãoonline que no
Canadá um café vai bloquear todos os sinais de 3G e wi-fi para os clientes. A
ideia é acabar com um fenômeno cada vez mais comum: um grupo de pessoas numa
mesa usando seus respectivos smartphones, mas sem conversar entre si. A moda se
propaga. A popularização
dos smartphones aponta a dependência dos usuários em relação a seus telefones
celulares. Esse vício foi batizado de: “nomofobia”, que é a angústia
relacionada à possível perda do celular ou à incapacidade de ficar sem o
aparelho por mais de um dia.
Há pessoas usando seus celulares que
pedem as refeições e se esquecem de comê-las ou levam os talheres no queixo,
nos olhos, na face e menos na boca. Há quem use o celular como talher e o leva
no prato de sopa. Não é absurda essa afirmação. Os dedos ficaram mais ágeis,
ligeiros e espertos. A comunicação é em tempo real. Os desatentos estão
sujeitos a trombarem com o poste ou serem atropelados.
E
os ruídos das comunicações continuam.
Se
a palavra “selfie” (fotografia que a pessoa tira de si mesma, geralmente com um
smartphone ou webcam e é carregada em um site de mídia social) foi a palavra do
ano de 2013 outra não ficou devendo nada a ela.
Eu me refiro a “Whatsapp” (aplicativo de mensagens multiplataforma que
permite trocar mensagens pelo celular sem pagar por SMS). Perceba a confusão
que essa palavra provocou na casa do meu amigo José Augusto que sempre foi
avesso à tecnologia. Ele não troca a sua lendária Remington pelo computador. Os
filhos resolveram presenteá-lo com um celular moderno com o aplicativo
“Whatsapp”. José Augusto se enrolou todo, não conseguia pronunciar e nem
guardar essa palavra estranha: “Whatsapp”. De bom humor e para alegria dos
familiares ele a trocou por “Led Zeppelin”, banda de rock britânica que fez
grande sucesso nos anos 70, 80 e 90. Na roda de amigos todos riem dele que se
esnoba dizendo que ganhou um celular dos filhos com um aplicativo sensacional
de nome “Led Zeppelin”. Os amigos, que já passaram dos 60 perguntam: “Led
Zeppelin? Tem certeza que o nome é esse Zé?”.
Marcelo é casado com Dalila, funcionária
pública. Toda noite ela chega do serviço apressada, liga a televisão para
assistir a novela: “Boogie Oogie” na Globo. O marido a aborda para um diálogo.
Ela o rechaça dizendo que só pode lhe dar atenção depois da novela. Final do
capítulo e ele a procura. Ela o recusa dizendo que precisa tomar um banho
rápido porque está cansada e precisa ver a novela “Geração Brasil”. Ele franze
a testa, mexe com os olhos e aceita sua ponderação. O banho foi rápido e ela vai
para a cozinha fazer um lanche. Ele aproveita o momento para lhe contar casos e
não consegue contar nenhum. Ela pede rapidez porque está quase na hora de
começar a novela “Império” e ainda tem “O Rebu”. Cansado de esperar ele dorme
sabendo que amanhã passará pela mesma rotina.
Marcelo pensou e percebeu que
comunicar com a esposa pessoalmente é uma tarefa difícil e humanamente
impossível. Ele então passou a lhe enviar mensagens por e-mail ou pelo facebook
e assim vão se comunicando, interagindo e resolvendo suas pendências domésticas.
É o preço da tecnologia.
Analisando esses comportamentos
lembrei-me da minha infância vivida no bairro Alto das Fábricas. Não é
nostalgia, é uma maneira diferente de vivenciar discursos de comunicação. Os vizinhos eram amigos, confidentes e
confiáveis. Quando a noite chegava muitos assentavam nas calçadas para contar
casos. O que se fez durante o dia era passado a limpo. As crianças brincavam no
meio da rua sem medo de serem atropeladas. De vez em quando a buzina de um
carro quebrava o silêncio das palavras. Não existia o cinto de segurança. Nada
de violência e nada de drogas. Os cigarros fumados eram feitos de fumo de rolo,
palhas ou de talos de chuchu. Hoje, qualquer criança de cinco anos sabe como
funciona celulares, tablets e computadores. É como disse um amigo meu: “É isso
que torna cada dia mais o mundo solitário e incompreensível”.
Fonte: Internet/ Blog: profissão Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário