Quem muda amortecedor e molas deve evitar altas velocidades.
A paixão e a insatisfação pelas
configurações de fábrica são os principais motivos que levam os motoristas a
personalizar seus carros. O assunto é polêmico e, de todas as alterações, o
rebaixamento da suspensão é a modificação que requer maior atenção, pois
envolve a segurança dos ocupantes.
O sistema de suspensão serve basicamente
para absorver as irregularidades do solo, oferecendo estabilidade e preservando
a estrutura do carro. Em geral, as montadoras adotam um ajuste que deixa o
carro mais confortável, para não sacudir tanto os passageiros na buraqueira das
ruas. Quando se mexe em amortecedores e molas, para rebaixar o veículo, o que
se busca é abaixar o centro de gravidade dele, melhorando a aerodinâmica e a
estabilidade. O carro fica mais esportivo, transferindo mais as irregularidades
do piso para quem está nele, ou seja, fica mais duro e menos confortável.
Suspensão
móvel ou fixa
Existem
basicamente dois tipos de suspensões: fixas e móveis ou variáveis.
Apesar de serem muito admiradas pelos apaixonados por carros, as móveis ou
variáveis não podem ser legalizadas, ou seja, usadas no veículo, se não vierem
de fábrica.
O
Inmetro não aprova a instalação de suspensão a ar comprimido e suspensão com
rosca (conforme artigo 6 da resolução 292 de 29/08/2008 do Contran). Um dos
motivos é a segurança: a altura variável compromete a estabilidade,
necessitando de conferências frequentes da geometria.
Atualmente,
alguns carros esportivos já saem de fábrica com suspensões variáveis. A maioria
permite que o motorista decida entre o conforto e a esportividade. Em alguns
casos, o próprio carro ”faz” a escolha em função da velocidade e condições da
pista, e alguns poucos modelos oferecem ajuste de altura, que são
pré-determinadas.
Na suspensão
fixa, presente na maioria dos carros, a alteração das molas e dos amortecedores
deve ser vista com muito critério.
Alteração nas
molas
Antes
de fazer qualquer alteração nas molas é importante saber que os fabricantes
utilizam softwares para o seu dimensionamento, pois o cálculo envolve um grande
número de variáveis como quantidade de elos, diâmetro, comprimento, carga, grau
de inclinação dos elos, tensão máxima de cisalhamento do material, entre
outras.
Além
destas variáveis, os engenheiros avaliam a geometria da suspensão para
identificar as solicitações a que esta mola estará sujeita e, por último, são
indicados os tratamentos térmicos que serão aplicados durante o processo
construtivo.
Por
isso, técnicos em suspensões não recomendam qualquer retrabalho (como é chamada
a modificação) nas molas para diminuir seu tamanho, seja o corte de alguns
elos, grampos ou mesmo aquecimento. Este último gera um alívio de tensões no
material e encurta a distância entre os elos, diminuindo o comprimento total da
mola.
Em
um primeiro momento, estes retrabalhos parecem atender às expectativas dos
clientes, mas, no médio prazo, problemas aparecem: amortecedores estourados,
trincas na longarina, trincas no túnel e batentes dos amortecedores danificados
serão os primeiros prejuízos.
Se
quiser alterar as molas, mais adequados são os kits de molas esportivas,
específicas para cada modelo de veículo. Além de dimensionadas pelo fabricante,
elas garantem a diminuição da altura com algum conforto e, principalmente,
oferecem uma sobrevida aos demais componentes da suspensão.
Alterações em
amortecedores
Os
amortecedores controlam as oscilações superiores e inferiores das molas. Se
colocar um kit de molas esportivo você deve também substituir os amortecedores
originais por um kit de amortecedores esportivos, especificados para cada
modelo de carro. Eles são dimensionados para atender a carga e o curso das
novas molas.
O
mercado nacional ainda não dispõe de kits para todos os modelos. Alguns
motoristas comprar kits importados, que custam mais caros. Uma dica é
participar de comunidades na internet, pois a troca de informações auxiliará na
aquisição dos kits e também na indicação de boas oficinas prestadoras de serviços.
Evite altas
velocidades
Todos
sabem que os veículos originais de fábrica passam por diversos testes de
durabilidade e desempenho. Equipamentos especialmente desenvolvidos para este
fim identificam possíveis falhas de projeto e estabelecem os limites de fadiga
de materiais e, mesmo assim, e com toda essa estrutura, os defeitos aparecem.
A
situação fica mais delicada quando o projeto original é alterado, por isso é
importante evitar altas velocidades. O estouro de um amortecedor ou quebra de
uma mola pode colocá-lo em uma situação difícil se você estiver acima de 100
km/h.
Existe
uma consciência muito grande entre quem curte fazer modificações. A maioria
sabe que possui carros especiais e que este fato merece atenção redobrada em
relação aos cuidados com manutenção preventiva. Assim, acabam sendo mais
cuidadosos do que muitas pessoas que mantêm seus carros originais. Eles sabem
que, a qualquer sinal de instabilidade ou ruído, deve-se encostar o carro e
fazer um exame detalhado das peças envolvidas na personalização.
Mudou, tem
que legalizar
Não
basta ter vontade, cuidar do carro e conhecer a lei. Mudar o carro envolve uma
burocracia. Saiba que, mesmo estando com a documentação legalizada, a maioria
das companhias de seguro não cobre os sinistros de carros rebaixados. Mais um
motivo para "pegar leve". Pensando em fazer outras modificações no
carro? Vale a pena ler as resoluções de número 291 e 292 de 29/08/2008 que tratam especificamente das
alterações.
Fonte: Jornal Folha de Negócios