Consolidada como a maior plataforma de lançamento do cinema brasileiro independente, a Mostra de Cinema de Tiradentes, em sua 17ª edição, a ser realizada na cidade histórica mineira entre os dias 24 de janeiro e 1 de fevereiro de 2014 inaugura o calendário audiovisual no Brasil apresentando ao público mais de 100 filmes em pré-estreias nacionais e mundiais, oficinas, debates, seminário, exposições, lançamento de livros, teatro de rua, shows musicais, performance, encontros e diálogos, atrações artísticas numa programação abrangente e oferecida gratuitamente para um público estimado em mais de 35 mil pessoas.
A temática central desta edição coloca em evidência os Processos Audiovisuais de Criação. A ideia surgiu da percepção de que essa produção inventiva apresentada anualmente nas telas de Tiradentes tem se mostrado cada vez mais moderna e original não apenas na maneira de se apresentar na tela e aos olhos do espectador, mas também nos bastidores e nos sets de filmagem.
O olhar atento s maneiras cada vez mais ousadas que os cineastas brasileiros contemporâneos têm encontrado para realizarem seus trabalhos vai permear parte da programação da mostra, incluindo debates, discussões e encontros com a crítica, realizadores e público. A pluralidade de conteúdos audiovisuais advindos das mais diversas fontes expressa a programação desta edição que reafirma o compromisso com o cinema brasileiro, com a sociedade que o origina, com as representatividades políticas, com as mudanças, influências e tendências do audiovisual, afirma a coordenadora geral da Mostra, Raquel Hallak.
Processos alternativos de realização audiovisual sempre estiveram presentes ao longo da história do cinema, surgindo como método antimetodológico de filmes e de diretores contrários ao sistema industrial de produção, sobretudo nos anos 1960. Com a ascenso da tecnologia digital nos últimos anos, os realizadores encontraram uma ferramenta propícia às transformações da técnica e dos modos, com consequências inevitáveis nos efeitos estilísticos.
Se os filmes perdem centros de criação e de produção, exigindo adequação aos novos modos de desenvolverem seus processos, também perdem centros de produção de sentido e de narratividade, fragmentando-se e dispersando-se, resultando em formas menos retas ou quadradas, mais tangenciais e com zonas de fuga, destaca o curador da Mostra de Tiradentes, Cléber Eduardo. Com essa temática, estamos pensando sobre o que no temos acesso direto, que a feitura do filme, que o filme sendo a própria obra em andamento, algumas vezes até mesmo em trabalhos que expõem todo esse processo.
Nesse sentido, os espectadores assistirão na programação da 17ª Mostra de Tiradentes a uma amostragem de um tipo de cinema que não se contenta em apenas narrar ou apresentar respostas, resultando em paradigmas renovadores da linguagem audiovisual em várias de suas vertentes. A nova paisagem cresce especialmente entre os realizadores mais jovens, inclusive adentrando a televisão, sobretudo quando a produção terceirizada para profissionais de cinema, que assim trabalham com limites de liberdade mais amplos, diz o curador.
O ATOR MARAT DESCARTES O HOMENAGEADO DA MOSTRA
Rosto marcante em vários filmes que se entregaram a esses novos processos audiovisuais de criação, o ator paulistano Marat Descartes será o homenageado da 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O tributo mantém a linha recente do evento de celebrar nomes de profissionais com menos tempo de carreira, mas com escolhas autorais de trabalho e com consistência nos recursos que empregam para atingir a excelência.
Marat, nascido em 1975. Formado em letras e artes cênicas na USP, iniciou a carreira no teatro, em 2004, e enveredou pelo cinema a partir de 2007 interpretando o marido Chico no curta-metragem Um Ramo, de Marco Dutra e Juliana Rojas. Já neste papel, o ator incorporou algumas das características percebidas na maioria de suas atuações posteriores, como em Os Inquilinos (2010), Trabalhar Cansa (2011), Super Nada (2012) e Corpo Presente (2013):
contenção, expressividade de corpo e de olhar, forte presença cênica e personagens marcados por impotência, angústia, fracasso ou infelicidade.
O filme de abertura da 17 Mostra Tiradentes será o mais novo exemplo da forma de Marat se apresentar em cena. Quando Eu Era Vivo volta a reuni-lo com a dupla que o projetou nas telas: a direção de Marco Dutra, e a montagem de Juliana Rojas. Na tela, o ator divide espaço com o veterano Antônio Fagundes e com a cantora Sandy.
Marat encarna sempre personagens cabisbaixos, emblemáticos de um imobilismo urbano, de uma classe média ou baixa na contramão dos arrotos de saúde financeira do país nos últimos anos, às voltas com suas incapacidades, afirma o curador Cléber Eduardo. O corpo, o rosto e a calvície de Marat Descartes, com seu nome de intelectual revolucionário, encarnaram o homem ordinário contemporâneo, sempre a lidar em alguma medida com as dificuldades do
trabalho e com a gestão de seu espaço físico e social.
Além do inédito Quando Eu Era Vivo, a 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes vai exibir outros trabalhos protagonizados por Marat Descartes: o longa Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa, de Gustavo Galvo; o média E Além de Tudo me Deixou Mudo o Violo, de Anna Muylaert; e os curtas 145, de Gero Camilo, A Caminho de Casa, de Paula Szutan e Renata Terra, e Fala Comigo Agora!, de Karina Ades e Joaquim Lino. A programação inclui ainda a Única incurso de Marat Descartes na direção, o curta Uma Confusão Cotidiana, realizado em 2006.
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A cidade de Tiradentes, localizada a 180km de BH e com apenas 7 mil habitantes, recebe durante a Mostra Tiradentes toda infra-estrutura necessária para sediar uma programação cultural abrangente e gratuita, que reúne todas as manifestações da arte. São instalados três espaços de exibição: o Cine BNDES na Praça, no Largo das Fôrras (espaço para mais de 1.000 espectadores); o Complexo de Tendas, que sedia a instalação do Cine-Tenda (com 700 lugares), e o Cine-Teatro (com platia de 150 lugares), que funciona no Sesi Tiradentes - Centro Cultural Yves Alves sede do evento.
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Fronteiras 2014.
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