Por Marcelo Miranda
A Copa do Mundo de 2014 mostrou ao mundo que o Brasil é um
país em mutação. Bem ao estilo da obra "O Retrato de Dorian Gray", do
escritor inglês Oscar Wilde, publicado em 1891. No enredo, um jovem cativante
serve de modelo para um artista, que pinta seu rosto. A figura, no entanto, vai
mudando de acordo com a vida fútil e cruel do retratado.
O Brasil que recebeu a notícia de que iria sediar a Copa era
um: sedutor, cativante aos olhares dos europeus. Sete anos depois, porém, a
feição está modificada. O estilo rompedor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva foi deixado de lado pela presidente Dilma Rousseff. Ricardo Teixeira,
acuado por denúncias de corrupção, renunciou às presidências da CBF e do Comitê
Organizador Local. O Morumbi, que seria palco da abertura, foi substituído pelo
Itaquerão.
E, acima de tudo, o boom do crescimento econômico do Brasil
perdeu a força e o país vê seu PIB crescer de maneira tímida. Das promessas
faraônicas feitas no início, bem a o estilo da empolgação de Dorian Gray, a
primeira não cumprida foi a de que não seriam utilizados recursos públicos na
construção dos estádios. Houve sim a utilização de verbas governamentais, já
que a União e os municípios desembolsaram valores para investir nos projetos.
No dia da confirmação do Brasil como país sede, os
brasileiros se sentiram representados naquela comemoração, realizada pela
comitiva brasileira. E mais, a cúpula da FIFA sentiu que acertara na escolha,
mostrando admiração pelo estilo brasileiro, descontraído e sem protocolos, que
tanto a irritaria posteriormente.
Na época, a crença vigente entre os brasileiros era de que,
impulsionado pelo evento, o país iria atingir um padrão de primeiro mundo na
questão de logística e de infraestrutura: empregos, estádios, fortalecimento da
economia, modernização dos transportes, das vias e dos serviços públicos.
Passados quase sete anos, ainda não foi isso que se viu. Em
muitos locais onde se esperava que tudo estivesse concluído, o cenário ainda é o
de um canteiro de obras, em que não se sabe ao certo como e quando serão
encerradas.
Em números, de acordo com a Folha de São Paulo, apenas 41% de
tudo o que foi prometido, realmente se concretizou. Até mesmo nos próprios
estádios, existiram arquibancadas e setores adaptados para atender à Copa e,
com o término do evento, já foram até desmontados, como é o caso das Arenas em
Curitiba e São Paulo.
O problema mais grave, superior às suspeitas de
superfaturamento, foram as mortes de dez operários em acidentes durante a
construção ou reforma dos estádios para a Copa. O Ministério Público garante
que as investigações continuam para que se apurem os responsáveis pela falta de
segurança nos locais.
Agora, resta saber se o que se concretizou de fato na Copa
forma-se, realmente, um legado para o País. Ao contrário de Dorian Gray, o
Brasil tem a chance de ficar mais bonito. Para isso, a maioria da população
apaixonada por futebol terá um papel importante. Não poderá ser mais
apenas formada por torcedores, mas sim por cidadãos participativos que,
comemoraram os gols da Seleção, e choraram nos 7 x 1 da Alemanha em cima do
timeco do Felipão.
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